31 de Dezembro
Hugo
Acordamos por volta de umas 9 da manhã para fazermos o primeiro passeio do pacote que fechamos.
Mari foi comprar umas empanadas para comermos no “desayuno”, pois eu estou apaixonado por esses salgados que são os que salvam da culinária típica daqui. Porém, logo descubro que sou apaixonado pelas empanadas da vovó simpática de Choroní, pois todas as que provei depois são classicamente massudas como manda a cultura venezuelana...
Logo depois de comermos, vou com o Carlos (piloto da lancha que nos levará para os passeios) de moto comprar as cervejas, gelo e pegar a “cava”, nosso famoso isopor. Voltei atrás da moto com isopor e gelo nas mãos, me equilibrando, enquanto passávamos pelos loucos cruzamentos da favela.
Embarcamos na lancha que fica estacionada no canal de esgoto atrás da pousada, uma nojeira com garrafas, sacos, papéis e bosta boiando... Aí então me pergunto: “PUTA QUE PARIU, ONDE ESTÁ O PARAÍSO DO CARIBE QUE TINHA CONHECIDO??”
A lancha começa a navegar e logo temos que parar para o Carlos tirar da hélice uma sacola plástica que se enroscou. Depois disso, entramos em uma enorme baía, que metro a metro vai deixando toda a porcaria da cidade e se transformando em uma água linda e limpa, numa imensidão aquática com as florestas da Reserva Nacional de Morrocoy no horizonte, uma cena deslumbrante que sempre me lembrarei.
De cara me chama atenção uma das partes de floresta que tem muitos pássaros sobrevoando juntos, como urubus na Linha Amarela, porém desta vez vejo somente gaivota, garças e outros pássaros. E a lancha seguiu em direção a esse local, que eu não sabia que se tratava da “Isla de los Pájaros”. Entramos na floresta – da maneira que eu sempre vi na TV as pessoas entrando na Amazônia -, passando por locais estreitos e com árvores, tudo muito fechado, até que do nada se abre uma grande “lagoa” que fica no meio da “ilhota” de plantas. Mari diz que se sentia como no desenho da Pocahontas, quando a indiazinha leva o príncipe para conhecer uma natureza deslumbrante. E realmente é deslumbrante! A ilha é um enorme “criadouro” natural de pássaros de tudo que é tipo. Existem pássaros sobrevoando para todos os locais, montando ninhos, com filhotinhos nos galhos das árvores sendo alimentados, outros se secando nos galhos e tudo o que tem direito. Muita energia da natureza, onde a vida se recria em locais distantes dessa loucura que vivemos. Havia uma espécie em particular de pássaros que chamada muita atenção: chamaemos aqui de “papo vermelho”, pois em meio a suas penagens pretas, havia um enooorme papo vermelho que se destaca de longe. As vezes inchado, como um balão embaixo do bico, as vezes vazio.
Chegamos no tal Cayo Juanes, que é como uma piscina natural azul turquesa no meio daquele mar, e ficamos um pouco para desfrutar daquelas águas transparentes... O engraçado foi aparecer um cara no meio do nada (pois esse cayo não tinha praticamente ninguém e fica no meio do nada) com um isopor vendendo sorvete (?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!). Sim, Sr. Lá estava um senhor vendendo sorvete numa caixa de isopor com sininho e tudo caminhando pelo cayo (é raso, bate na altura do peito a água). Depois apareceu também um barquinho vendendo lagostas, polvo e tudo mais, porém como temos muito de passeio ainda, preferimos não comprar nada.
Voltamos para a lancha, passamos por um local muito estranho, onde tem uma imagem de uma santa (Marina Fay), onde pessoas deixam todo o tipo de coisas como oferendas e tem muitas urnas fúnebres...
Ficamos ali um tempinho e partimos para o destino principal: Cayo Sombrero, que se trata da atração principal de Morrocoy e uma das principais do Caribe. Ao avistá-lo, dá maior alegria ver aquela ilhazinha no meio do nada, com areia branca e cercada por águas ora transparentes, ora azul turqueza... Então viro pra Mari e falo: “Cadê meu cigarro??”, já que ela foi arrumar a bolsa enquanto fui comprar as cervejas. Conclusão: a espertona se lembrou de tudo, até de baralho, menos do cigarro... Dá aquela vontadezinha de esganar um, mas tudo bem... Vamos lá...
Dou uma duas rodadas pela ilha pra procurar cigarro, mesmo sabendo que era impossível alguém vender isso naquele paraíso, já que se trata de um local de muitos turistas e pouco comércio, quer dizer, nada além de três quiosques que vendem peixes e frutos do mar.
Na volta, vou pra água com o Snorkell que o Carlos nos emprestou. E dessa vez a Mari não perdeu, felizmente...
Que coisa FODA mergulhar nesse lugar! Você entra numa água inacreditavelmente linda e limpa, onde em algumas partes é azul turqueza e em outras, transparente, fica nadando e mergulhando perto dos corais, onde dezenas de peixes de todos os tipos e tamanho circulam. São pequenos, grandes, largos, compridos, pretos, azuis, brancos, amarelos, bicolores, tricolores e por aí vai. Como sabem, sou meio “cagado” em mar e tal, mas a beleza é tanta que me esqueci do medo que tenho e fiquei lá embaixo d’água desbravando aquele mar. Logo a Mari vem comigo e ficamos mergulhando juntos, indo atrás dos cardumes e tudo o mais.
Vamos andando para conhecer mais a ilha e nesse momento nem mais lembramos mais da literal furada que é o local onde estamos hospedados.
Depois de um tempo, vemos um cara com cigarro, a Mari pede três e me acalmo um pouco mais...
... Pedi na cara dura para que me vendesse alguns cigarros porque meu noivo estava desesperado por ter esquecido os deles. O rapaz, então, me cede três e não aceita nenhum dinheiro. Salvação do Hugo, que já estava subindo pelos coqueiros de desespero.
Não preciso repetir a maravilha que é aquele lugar de águas indescritíveis. Os corais ao fundo provocando ondas naquele mar tranqüilo, os peixes, a temperatura, a areia branca, o sol forte e quente. Demos sorte porque a praia nem estava lotada. Cayo Sombrero em alta temporada costuma ficar tão cheio que muitos barcos são obrigados a voltar para o continente sem desembarcar seus clientes (pois há limite de pessoas por cayo).
Foi um dia, sem dúvida, fora da realidade. Como se estivéssemos, de verdade, no paraíso. Fico imaginando, se eu posso encontrar isso aqui em Morrocoy que está pertinho do continente... como será, então, Los Roques, famoso arquipelago venezuelano onde existem cayos como estes de Morrocoy mas muito mais longe do continente?????? Ai ai, um dia ainda vou lá. Promessa!!!!
Do outro lado, sentamos na sombra de uma enorme árvore e conheci uma hiponga que vendia brincos e outras coisinhas. Comprei um brinco dela e ela me disse que estava hospedada em Chichiriviche. Explico: para ir aos cayos de Morrocoy você pode ficar hospedado em um desses dois povoados, Tucacas ou Chichiriviche. O que eu soube do Brasil era que Chichiriviche era mais pacato e tinha sido muito afetado pelas chuvas. Como íamos passar o Reveillon lá, optei por Tucacas porque li que havia mais movimento (porém, não sabia que se tratava de uma cidade horrorosa igual a uma favela que não tinha um restaurante sequer). No entanto, ao conversar com a hiponga, ela nos disse que Chichiriviche era linda, pequena, que tinha um Malecón, restaurantes, à noite você pode caminhar pelo Malecón, tomar uma cerveja... Sua descrição me lembrou muito Choroní e morri de raiva por não ter ido para lá. Na volta para a Pousada estava decidida a pegar o dinheiro de volta que demos adiantado pela estadia e pelo passeio e seguir para Chichiriviche, deixando essa cidade horrorosa para trás.
PORÉM, quando chegamos na pousada, depois de ficar horas esperando a funcionária lá responsável, ela simplesmente me disse que lá “não se devolve dinheiro”. Que não havia nada que ela pudesse fazer, pois ela já havia depositado toda a grana e não poderia nos devolver nada. Tentei argumentar alguma solução, mas ela foi irredutível. Já eram quase 18h da tarde e não havia muito o que fazer, o Reveillon seria em algumas horas e nós estávamos presos naquele lugar.
Hugo e eu saímos para comprar pelo menos um champagne para estourar na virada e estávamos resignados e chateados por não podermos sair dali. Quando voltamos de nossa “voltinha” pela cidade, fomos para o quarto e dormimos de desgosto. Às 23h, acordei e insisti que não queria passar o Ano Novo dormindo. Já que estamos no inferno, abracemos o capeta!!!!! Acordei o Hugo e saímos do quarto. Na pousada, havia mais 06 pessoas hospedadas que estavam numa situação igual a nossa. Imediatamente eles nos chamaram para nos juntarmos a eles e aí nossa estadia em Tucacas sofreu uma virada imediata: conhecemos pessoas incríveis, divertidíssimas e fizemos uma festa naquela pousada. Gorge, Yulia, Milvia, Daimi e mais um casal de srs.
Conversamos, bebemos, viramos o ano, vimos os fogos, tiramos fotos. Às 02h da manhã, Gorge aparece todo arrumado pronto para a “rumba”. Nos pergunta se queremos ir com ele e, mesmo com a expressão desesperada do Hugo dizendo que não, aceitei o convite e lá fomos rumbiar em Tucacas às 02h da matina. Fomos parar, obviamente, numa boate mega tosca – a única aberta na cidade –, na qual o DJ fez um remix de todas as músicas de reggeaton de maneira que soassem como merengue. Então, era muito engraçado, pois ao som de Shakira “loca, loca, loca”.. as pessoas dançavam MERENGUE!!! Hahaha... Gorge, um palhaço, nos fez rir a noite inteira. Acabou sendo um Reveillon divertidíssimo. Adorei estar lá.
O dia seguinte prometia: mais passeios pelos cayos. Na verdade, íamos ficar em Playuela e desta vez, iríamos todo o grupo. Mal podia esperar.
O dia seguinte prometia: mais passeios pelos cayos. Na verdade, íamos ficar em Playuela e desta vez, iríamos todo o grupo. Mal podia esperar.
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